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  • Foto do escritorRenata Bento

VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA - QUANDO O ASSÉDIO É MORAL

Atualizado: 9 de ago. de 2020


Ao computar as horas trabalhadas diariamente, ou num período longo durante uma vida, é bem possível, salvo exceções, chegar-se à conclusão de que uma pessoa passa a maior parte do seu tempo no ambiente de trabalho. Pensando por esse viés seria bem mais interessante e até mesmo produtivo que o prazer em trabalhar, isto é, por exercer uma atividade produtiva, pudesse ter um percentual maior que o desprazer.


O trabalho do ponto de vista emocional é um ato organizador, tanto que a falta de vontade de trabalhar pode ser entendida como ausência de graça ou de vivacidade, ou seja, aponta para algo que não vai bem no campo emocional do sujeito. O ato de trabalhar expõe o indivíduo a certas tarefas que o mantêm em uma atividade de rotina e em contato com outros. Ao mesmo tempo que se estabelece mais ou menos uma relação social, dependendo do tipo de labor que exerce, também o coloca em trabalho contínuo consigo próprio através da intimidade com seus potenciais e põe a mente em funcionamento tirando-o da inércia; e isso é muito positivo.

A capacidade de trabalhar é vista como algo que tira o sujeito do princípio de prazer e o expõe ao princípio de realidade. O próprio trabalho é a realidade, que o vincula à necessidade de manutenção e provimento da própria existência, tanto na esfera financeira quanto no contexto social. Há uma necessidade de adequar as pulsões sexuais e agressivas que precisam conviver com as regras e normas estabelecidas no ambiente de trabalho. E, justamente, por esse contexto a capacidade de trabalho pode ser considerada um aspecto importante para a manutenção do equilíbrio da economia psíquica.


Mas como fica para uma pessoa que precisa se confrontar diariamente com um ambiente hostil onde sua capacidade de trabalho é fortemente atacada?


Desde que surgiram as primeiras relações de trabalho já podia ser observado o assédio. Mas devido às amplas mudanças no ambiente organizacional, com o avanço tecnológico no mundo e com a possibilidade de se poder falar a respeito, foi que esse assunto passou a ser amplamente discutido. As pessoas passaram a ganhar voz e, dessa forma, também a coragem para falar sobre esse assunto passou a ser artigo valorizado.


Embora as relações perversas sempre tenham existido, tanto no ambiente de trabalho quanto no ambiente familiar, atualmente tem havido espaço para se discutir sobre o sofrimento ao qual uma pessoa pode ser submetida ferindo sua autoestima e sua capacidade de se relacionar consigo e com os outros. O rendimento tende a baixar e a pessoa passa a ficar debilitada, atacando friamente sua saúde mental.


Quando uma pessoa ultrapassa a barreira da dignidade do outro diante de sua existência, sendo insistente e inconveniente, por pouco tempo ou de forma duradoura, abordando, cercando a pessoa ou cerceando sua liberdade, estamos falando de assédio.


Observa-se que atitudes como essa onde se expõe o outro a situações constrangedoras durante o exercício de seu trabalho frequentemente ocorrem em relações onde há subordinação hierárquica. Isto é, quando pessoas que exercem funções de liderança abusam da autoridade interferindo psicologicamente de forma negativa nas lideradas, uma forma clara de terror psicológico ou violência psíquica.


A prática de assédio moral patrocinada pela opressão impõe ao sujeito uma série de perigos uma vez que pode causar ou potencializar vários distúrbios emocionais e até mesmo psiquiátricos, entre eles a depressão e/ou o transtorno de ansiedade porque destrói a capacidade de trabalho e a resistência psicológica das vítimas.


Pode parecer simples, mas não é a toa que se observa que pessoas envolvidas em tramas emocionais em seus trabalhos, acrescidos da pressão constante por metas e adicionado a isso o assédio, podem ser submetidas a um grau de sofrimento elevado que pode levar ao suicídio. É bem verdade que a forma como cada pessoa consegue lidar, suportar e conviver com situações emocionais intensas poderá ser observada de modo particular, ou seja, como cada um se relaciona com seus próprios mecanismos de defesa.


O que se observa é que as vítimas do assédio moral particularmente tornam-se alvo de ameaças, calúnias e críticas infundadas. Do ponto de vista emocional, os assediados são pessoas que estão mais disponíveis às mudanças, mais abertas às críticas e particularmente mais democráticas. Curiosamente são pessoas mais empáticas, éticas e com capacidade de liderança informal. Pode parecer estranho, mas os agressores ficam intimidados com esse tipo de personalidade porque em seu caráter são desprovidos de características empáticas e justamente se sentem ameaçados por essas características, já que não as obtêm e querem destruí-las, retirando assim de seu radar a ameaça que isso lhes causa.


Do ponto de vista emocional, os agressores possuem características de personalidade psicopática ou perversa, marcados pela falta de caráter, ausência de empatia. São indivíduos menos capazes afetivamente, que apresentam transtornos de personalidade, são mais frios e calculistas e passam por cima do outro com muita facilidade, uma vez que não possuem em sua constituição o tal do bom caráter.


Quanto mais o ambiente de trabalho for desorganizado, mal estruturado mais um líder perverso terá campo para atuar; basta encontrar uma brecha e ele ampliará sua necessidade de realização pelo desejo de poder. As técnicas são sempre as mesmas - perceber quais são os medos, aproveitar as fraquezas do outro, aliás no que são muito bons em detectar, e por fim aniquilar suas defesas até que o assediado acredite estar em erro. Isso ocorre de forma extremamente sutil, com requintes de sedução e sadismo, aproveitando dos aspectos masoquistas do outro. O assediado pode chegar ao ponto de se sentir tão confuso que poderá ainda dar razão ao agressor, isso é muito comum. Seu papel é minar as características positivas do sujeito e aniquilá-lo emocionalmente.


Os atos perversos, sejam na família ou na organização de trabalho, nunca deverão ser vistos como algo normal. A banalização ou naturalização do mal é o câncer do mundo e a conscientização de sua existência é o que se pode considerar importante para levar à frente denúncias desse tipo de ato. Ao se perceber confuso sem motivo aparente no ambiente de trabalho, é importante procurar ajuda de confiança. Uma rede de apoio poderá facilitar o favorecimento de novas percepções e a por fim levar a novas direções.

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