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  • Foto do escritorRenata Bento

QUANDO A CONVERSA APROXIMA

Atualizado: 10 de ago. de 2020


Durante a gravidez é muito comum que os olhares estejam direcionados para a mulher; em um processo criativo, no interior de seu corpo, ela gera a vida. No entanto, após o parto, esses olhares se dirigem imediatamente ao pequeno, ao bebê. E a mulher que acaba de virar mãe tende a ficar apagada e desinvestida. Em seu mundo solitário, precisará enfrentar seus fantasmas, seus incômodos, dores, suas idealizações e frustrações. Precisará se entender com seu corpo, articular a vida de mãe, mulher e profissional. E pode se sentir fracassada diante de uma sociedade que aplaude o corpo enxuto e a vida aparentemente maravilhosa de mulheres que acabaram de parir e que dão conta de tudo, pelo menos é o que dizem. Os incômodos, as angústias não podem ser revelados; ficam abafados, em segredo em nome da busca da maternidade idealizada. 


A idealização da maternidade possui um aspecto que não abre espaço para sentir o que é real. Não existe supermulher nem supermãe, e sim uma pessoa, com seus medos e seus sentimentos. Existem renúncias, trocas e o aprendizado diário da maternidade que se dará através da relação que se estabelecerá entre a mãe e seu bebê. 


É preciso dar espaço para que essa mãe possa falar de suas inseguranças e suas angústias, sem dar palpites ou fazer interferências. É justamente assim, sendo escutada e compreendida, que ela conseguirá abrir lugar dentro dela própria para desabrochar seu jeito de lidar com a maternidade. 


Como a maternidade tem muito de idealização, não só da própria maternidade como também a idealização do bebê, é comum observar a mãe que se desdobra em busca da perfeição. Sem muitas vezes entender que cada uma terá sua própria experiência e que, portanto, é singular. Ajudar a mãe a se tornar mais confortável e segura com a sua maternidade é o melhor que se pode fazer.


Além disso, encontrar outras mães, que de forma verdadeira possam conversar sobre suas dúvidas, além das fantasias que giram em torno da maternidade, é um alento e poderá ser uma experiência enriquecedora. 


Guardar os sentimentos não faz com que eles desapareçam. Ter noção das próprias dificuldades e conversar sobre elas é mais do que meio caminho andado para buscar formas de administrar e resolvê-las.  A conversa é uma forma de compartilhar e de fazer circular novas ideias e perspectivas. Ter uma conversa franca com pessoas de sua confiança é bastante positivo, pois ajuda a redimensionar o problema e a se sentir mais confortável emocionalmente. 


É comum as pessoas terem vergonha de reconhecer que têm sentimentos, sobretudo os que são considerados negativos, ainda mais quando são sentimentos negativos relacionados à maternidade, a tendência é guardar esse segredo a sete chaves. E por esse motivo é importante dizer que todas as mães podem ter sentimentos bons e ruins; isso é normal. 


Entrar em contato e assumir que se tem todos os sentimentos, sejam eles bons ou ruins, evita que não se fuja de si próprio. É uma forma de explorar e reavaliar as emoções. Não é fraqueza demonstrar sentimentos, ao contrário, saber sobre cada um deles ajuda a pessoa a se tornar mais forte. 


Há uma diferença entre compartilhar problemas, através do desabafo, e permanecer nele por longo tempo como se ficasse girando em círculos. Desabafar não é tratar do problema em si; é uma forma de aliviar a tensão momentânea. Normalmente a pessoa está tão submersa que não acredita que exista saída para seu sofrimento, mas é nessa conversa que surgirão novas percepções e novos caminhos. O nascimento de um filho representa uma grande transformação na vida de uma mulher. É muito comum as mulheres iniciarem uma análise ou terapia diante de tantas questões que passeiam em sua cabeça e isso é muito positivo.


É possível que uma pessoa passe por situações tão difíceis quanto impensáveis. E cada um pode reagir de forma diferente. Dependendo da intensidade do trauma, algumas podem se fechar e guardar esse segredo/dor por muito tempo ou uma vida inteira; isso ocorre por não acreditar que alguém possa escutar, ou por medo, insegurança ou até vergonha de ter passado tal situação ou ainda por receio do julgamento e opinião alheia. Falar sobre essa dor pode ajudar a ressignificar e, apesar dela, experimentar a vida com mais alegria.

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